segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Infidelidade



“Infiel – notas de uma antropóloga”, livro da antropóloga Mirian Goldberg, entrega ao leitor o que o título promete: anotações sobre a questão da infidelidade, tema que atravessa toda a trajetória acadêmica da professora da UFRJ cuja dissertação de mestrado foi sobre a enigmática figura da Outra. A contabilidade de Mirian é simples: dados demográficos indicam que, na faixa dos 50 aos 54 anos, um homem não-casado (pode ser divorciado, viúvo, solteiro) tem 30 vezes mais chance de encontrar uma parceira do que uma mulher na mesma idade.

Ela afirma que, na falta de um homem inteiramente disponível, as mulheres nesta faixa etária que se transformam na figura da Outra estão apenas democratizando o parceiro. Outra hipótese levantada por Mirian, a partir de estudos realizados pela demógrafa Elza Berquó, é a busca de relações homossexuais em mulheres a partir dos 50 anos como alternativa ao envelhecimento solitário. Para a mulher que envelhece, essas seriam as duas opções: relacionar-se com um homem casado ou tornar-se lésbica.

Pesquisas utilizadas por Mirian apontam que, na população acima de 65 anos, mais de 50% das mulheres estavam viúvas, enquanto 75% dos homens estavam casados. A maior longevidade feminina e o fato de os homens se casarem com mulheres mais novas produz essa configuração estatística.

Mirian afirma que, na sua geração, é difícil encontrar mulheres que não tenham sido ou traídas ou a Outra de alguma infidelidade masculina. Esse papel de a Outra é exercido, segundo ela, com grande ambiguidade. As mulheres oscilam em se apresentarem como as verdadeiras companheiras – à esposa caberia apenas o papel oficial, esvaziado de afeto, apenas formal – ou como destruidoras de lares.
Nos depoimentos das amantes, as esposas ora aparecem como coitadas, vítimas, submissas, enganadas, traídas; ora como manipuladoreas, falsas, prostitutas, chantagistas, interesseiras, mentirosas. A Outra se representa como companheira ideal: inteligente, independente, moderna, sexy, realizada.

A pesquisadora localizou ainda importante diferença entre a Outra, conforme idade. As que passaram dos 50 anos já se acomodaram no papel e sabem que são a Outra, sem chance de vir a tomar o lugar oficial da esposa. Muitas afirmam sequer desejar isso. Dez anos mais jovem, a Outra de 40 anos alimenta a esperança de tornar-se legítima esposa de seus parceiros. Com que freqüência essa troca ocorre é informação em falta no livro.

Fonte: Carla Rodrigues

http://sintrafesc.org.br/view_artigo.php?id=1151

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