quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Mundo Injusto - Honda Civic













(26-11-07)
- Algumas situações têm a capacidade de mostrar, de forma contundente, como o mundo é injusto. Dirigir o Honda Civic Si é, sem dúvida, uma das mais extremas, ainda que ela não comece necessariamente atrás do volante, mas sim quando se olha sua tabela de preços.

No Brasil, este esportivo é vendido por R$ 99,5 mil, valor que serve para comprar até um imóvel ou dar entrada em um bem bacana. Nos EUA, o Honda Civic Si sedã (é preciso diferenciar; lá eles também têm a opção de um belíssimo cupê) custa a partir de US$ 21,31 mil e, na versão básica, é tão ou mais completo que o modelo brasileiro. Essa quantia equivale a cerca de R$ 38 mil...

Isso poderia até ser uma questão menor, um mero motivo de indignação pela desproporção exagerada de preço, mas tudo fica muito pior depois que você assume o volante do Si.

Por fora, ele parece um Civic comum, que já agrada bastante pelas linhas esportivas, mas se destaca pelo lindo tom de vermelho de sua carroceria (e, acredite, esse carro tem de ser vermelho), pelas rodas de liga-leve de aro 17” e pelo discreto aerofólio na traseira. O adesivo i-VTEC DOHC também provoca seu frisson, na mesma proporção em que os emblemas Si na traseira e na grade dianteira do carro.

Aberta a porta, o motorista se senta com conforto em um dos melhores bancos à disposição no Brasil, hoje, seja de um carro nacional ou importado. A sensação é de vestir o carro, literalmente. E vestir direito, como uma roupa que tivesse sido feita sob medida. Se houver necessidade de um ajuste ou outro, todos eles estão à disposição, tanto no banco quando na coluna de direção, regulável em altura e profundidade.

O painel, quando se revela, mostra um grafismo tão vermelho quanto a carroceria, só que mais instigante. O conta-giros é um espetáculo à parte, como o olho de uma esfinge pedindo para ser decifrada. Quem gosta de carros e vê aquele mostrador com escala até 9 mil rpm sente a voz embargada. Mas fica ainda melhor.

Logo ao lado, muito ao alcance da mão, está a alavanca de câmbio, que indica seis marchas a serem exploradas. O que resta é virar a chave, baixar a alavanca de freio de mão e começar a brincadeira.

Apesar de o torque máximo deste carro surgir a altos 6.100 rpm, o Si responde com muita disposição à saída. É dócil, mas não nega sua presença, como acontece em muitos esportivos atuais e passados, que são chochos em baixas rotações e só mostram a que vieram depois de 3.000 ou 4.000 rpm. Isso é culpa do comando i-VTEC, variável, que privilegia o melhor comportamento do carro em qualquer situação.

Mais disposto que um Civic comum, o Si é civilizado. Extremamente, diga-se. É um carro para carregar a família durante a semana com a maior segurança. Se fosse um cavalo, ele seria aquele que o mocinho chama por um assovio e se posta sob a janela, esperando que o dono pule em sua cela. Outros esportivos estão mais para o cavalo que o peão tem de domar numa arena de rodeio, com comportamento imprevisível.

A parte boa é que basta você passar dos 4.000 rpm para o Civic ficar mais arisco. Isso, aliás, é fácil, já que o motor 2-litros gosta muito de girar (delícia!). Também é um processo silencioso, ainda que musical. Ronco gostoso como o deste carro só o dos Alfa Romeo.

Com a família em segurança em casa, entretanto, o dono do Civic Si pode levá-lo para uma pista e pisar com vontade. O carro vai responder, especialmente acima dos 6.000 rpm, quando o comando de válvulas i-VTEC mostra o último dos seus segredos. O giro sobe tão rápido que logo o motorista vê o ponteiro do conta-giros bater 8.000 rpm e uma luzinha vermelha acender no velocímetro.

Trata-se de uma shift-light, uma indicação para a hora certa de passar à marcha seguinte. Nem seria preciso, uma vez que o motor, com seus sistemas eletrônicos, se preserva de sair do giro, garantindo uma longa e proveitosa convivência com seu dono, mas dá um “tchan” esportivo que deixa um sorrisão no rosto.

E que experiência é essa de passar de 6.000 rpm com o Civic Si... Seria quase como abrir um turbo em sua capacidade máxima, mas é diferente, porque o motorista sente o tempo todo que está no controle. O motor é forte, mas progressivo e muito, muito obediente.

Em termos de dirigibilidade, o que se pode dizer? O carro vai para onde você aponta o volante, faz curva como poucos e parece não chegar nunca no limite de sua potência.

Todos os possíveis motivos de crítica, como o porta-malas pequeno, de apenas 340 l, se tornam irrelevantes. O que não dá para aceitar, de jeito nenhum, é que o Si custe R$ 99,5 mil.

Ele tinha de custar R$ 38 mil, como nos EUA. O motorista chega a sonhar com reencarnação e pede a Deus para renascer americano. Ou para que, enquanto ainda estiver vivo, alguém, em algum lugar e de algum jeito, tornar o Brasil um lugar onde seja possível comprar um carro assim por um valor aceitável e acessível. De todo modo, isso seria problema para a Honda. Não haveria como dar conta da demanda, nem com três fábricas a mais no país. Que carro!















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