domingo, 9 de março de 2008

Mais uma vez


As palavras e as promessas, tão passado e tão presente, tão eterno enquanto dure e o coração em cubos , já dizia os versos da música Até onde vai da banda mineira Jota Quest. É irrefutável a ferocidade de antigas paixões que permanecem vivas no presente e remetem à idéia de frustração e déjà vu .

O amor é considerado pela psicologia como forma de transferência involuntária. Ele é a projeção de sentimentos internos em algo ou alguém, sem a necessidade de gostar ou não. Já a paixão é um estado passageiro débil e impulsivo, assim como gargalhar e segundos depois estar triste.

A secretária executiva, Elisabeth*, 33 anos, conta que conheceu o esposo no bairro onde ambos moravam. De famílias conhecidas, os dois travaram um namoro de sete anos. Quando se julgaram maduros e estáveis optaram pelo casamento. Três anos vivendo sobre o mesmo teto, começaram os desentendimentos, cada vez mais freqüentes, e logo veio o desgaste. O ápice do período conturbado da história culminou com a separação do casal.

Imaturidade, falta de comunicação, infidelidade, ciúmes e problemas financeiros são algumas das causas mais comuns que contribuem para o término dos relacionamentos. Em algumas situações há reversibilidade do divórcio e os casais resolvem apostar novamente na relação, levando em conta os momentos agradáveis que já viveram lado a lado. Dar certo ou não é uma questão que envolve fatores racionais e emocionais.

Medir a intensidade dos sentimentos atuais, bem como a maturidade conquistada no período em que houve individualidade são posturas fundamentais para que a volta não seja uma atitude precipitada fadada ao fracasso absoluto. O fluxo de transferência, ou seja, do amor, pode ser invertido, interrompido, esquecido, ficar pulsando inconscientemente durante anos e depois voltar como se tivesse ocorrido ontem, já que o nosso inconsciente é atemporal, não possui tempo ou espaço , diz o psicólogo clínico Mauro Godoy.

A sensação de ponto e vírgula em uma situação incita uma resolução com ponto final. A idéia de que algo está inacabado cria o anseio por reviver aquilo que racionalmente já passou, mas permanece revigorado no emocional. Apesar de o amor e a vontade de reconstruir o relacionamento deverem prevalecer ao rancor, vale lembrar que para toda ação há uma reação. O cuidado quando se insiste em um erro com tendência a progredir deve ser redobrado. Se esse risco significar abrir mão de coisas importantes para uma das partes, talvez não valha a pena.

Havia desistido do meu ex-marido, porque ele não aceitava meus filhos, frutos do meu casamento anterior. Passou um tempo e ele tornou a me procurar. Agradava a mim e agora também aos meus filhos. Dizia ter mudado e aparentemente acreditei em sua mudança pelas atitudes que tomava. Insistiu muito e acabei cedendo. Não levou muito tempo para voltar a não aceitar meus filhos. Ficamos juntos dessa segunda vez por cinco anos, mas me separei novamente e não voltei mais. Não tive filhos com ele , revela a cabeleireira, Cleide Santos de Carvalho, 43 anos.

O homem, de um modo geral, é um ser altamente mutável. Essas mudanças ocorrem de acordo com o nível de experiências adquiridas durante os anos, de maneira gradativa. O amadurecimento é uma das justificativas mais recorrentes da reconciliação. No entanto, nem sempre ele corresponde às expectativas do companheiro.

Fiquei um ano separada do meu ex-marido. Mantínhamos contato sempre e foi essa aproximação que nos fez concluir que valeria a pena nos dar uma nova chance. Houve melhora, porém muitos erros cometidos no passado ainda se repetem. Contudo, hoje não dispenso o diálogo no meu relacionamento, principalmente depois de uma discussão, para resolver o problema naquele momento e não postergá-lo sem uma solução. Quanto à mudança de conduta, ambos continuam iguais, por se tratar de personalidades fortes. Ao todo estamos juntos há sete anos. Apesar de tudo somos felizes hoje , completa *Elisabeth.

Para Godoy, é possível obter sucesso na nova tentativa com a mesma pessoa, através do amadurecimento mútuo. Existe uma teoria psicológica que prova que o casal também adolesce. E como nem todo mundo morre na adolescência, um relacionamento pode sobreviver sim. Em um relacionamento entre pessoas, que possuem a mesma dinâmica, ocorre da mesma forma. No começo são como duas crianças, depois da primeira crise viram dois jovens, na terceira, dois adultos e assim por diante.

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